Lá na Calebe_ é comum recebermos um perfil específico de empreendedores em estágio inicial. Em geral, têm ótimos empregos ou, pelo menos, ótimos salários. Para eles, empreender significa se alinhar melhor com seu propósito de vida, suas crenças, ou mesmo uma sede que o emprego atual não consegue saciar.

A questão que sempre vem para a mesa é: em que momento vale “jogar tudo pro alto” no emprego e virar a chave para ficar full-time no novo empreendimento?

Não, eu nunca tenho essa resposta. Aliás, não é algo que se possa responder, porque não é exatamente uma pergunta.

Empreender é uma escolha.

E o que podemos fazer para escolher melhor? Buscar informações que colaborem ao máximo para uma tomada de decisão com riscos calculados e obstáculos previstos.

Há três convicções que, quando isoladas, me parecem problemáticas para o empreendedor que está pensando em deixar um posto de trabalho seguro para se aventurar num novo negócio:

1- Largar seu emprego porque acredita que o novo negócio vai mudar seu patamar financeiro

Diversos autores (sendo Dan Pink o meu favorito) apontam que a motivação financeira, pura e simples, pode ser inimiga do sucesso. A ausência de propósito é um esvaziamento da ideia de empreender, que tem consequências como a falta de inspiração, uma cultura frágil e, consequentemente, a dificuldade para atrair os melhores talentos.

“Temos três necessidades psicológicas inatas: competência, autonomia e relacionamento. Quando essas necessidades são satisfeitas, ficamos motivados, produtivos e felizes”

Dan Pink (tradução livre)

Não estou dizendo que o dinheiro não importa. Pelo contrário, a viabilidade financeira é um dos três aspectos fundamentais de qualquer negócio, junto com a factibilidade e a desejabilidade. Mas considerar somente o potencial de receita, certamente, diminui as chances de se ter felicidade e realização na hora de empreender.

2- Largar seu emprego porque ao empreender, vai fazer o que mais gosta

Malcolm Gladwell tem uma frase forte que se prova verdade a cada experiência que tenho:

Quanto mais você tem sucesso em uma atividade, mais se afasta de realizar aquela atividade que te fez ter sucesso.

Gladwell, que é muito bem-sucedido como escritor, foi se tornando palestrante, consultor e certamente se deparou com atividades como gestão financeira, recursos humanos, planejamento estratégico e outras coisas, que não são exatamente escrever um livro novo. Deve ter sido engraçado experimentar o veneno da própria teoria.

Falo também por mim: se eu tivesse começado um escritório de design porque queria fazer nada mais que desenhar marcas ou fazer sites, hoje eu seria um profissional extremamente infeliz.

Empreender é uma jornada de incertezas. Quando um cozinheiro ou um garçom faltam ao trabalho no restaurante novo, adivinha quem é que tem que segurar as pontas? E vejo muitos empreendedores, em especial alguns vindos de grandes empresas, que pensam que tudo se compra, se contrata, se delega. Mas a realidade não é bem essa.

3- Não vou largar o emprego enquanto a o empreendimento não der certo

Particularmente, não sou grande convicto do sucesso part-time. Claro que pode acontecer, mas as chances de um novo negócio ter uma performance excelente diminuem, consideravelmente, quando a energia para empreender está dividida.

O mais importante, neste caso, é definir o que é “dar certo”. Há uma meta de vendas?

Uma de resultado? De lucratividade? Porte da operação?

Deve-se considerar a chance real dos ganhos pessoais diminuírem muito nessa mudança. Algumas empresas só vão realmente dar certo porque o empreendedor se tornou full-time. E, ainda assim, isso levará algum tempo para acontecer.

Lá atrás, eu mencionei que os dados podem ser grandes aliados nessa tomada de decisão. Por isso, aqui estão as principais técnicas que utilizamos lá na Calebe_ para essa fase:

Estudo de viabilidade – a carta de navegação

Quando o empreendedor quer melhorar sua percepção sobre o mercado (entender a viabilidade econômica, taxa de retorno, entre outros dados…), um estudo especializado pode ser um bom plano de navegação.

Não é raro que nossos clientes contratem o estudo de viabilidade e, mesmo com um retorno negativo, decidam empreender. É quando perguntamos: mas por que você perdeu tempo com isso? Se a sua decisão já estava tomada, contrate um estudo de mercado, vá direto para alguma versão de business plan, ou mesmo construa o seu MVP e comece a operar.

Um estudo de viabilidade ajuda a calcular riscos e minimizar erros de rota. Mas só faz sentido para ajudar o empreendedor a tomar a decisão de abrir o negócio, não de mudar a rota do que, inevitavelmente, vai começar.

Dependendo do mercado, da experiência prévia do empreendedor e dos dados já disponíveis, pode ser necessário combinar o estudo de viabilidade com um mapeamento do mercado, a fim de dimensionar, por exemplo, as vendas.

Mapeamento de mercado – o mapa da mina

Seja para complementar a análise da viabilidade, ou mesmo quando a decisão já está tomada, mas o empreendedor sente falta de mais dados para auxiliar a tomada de decisão, um mapeamento de mercado pode ser uma ferramenta eficaz. Com ela, podemos entender melhor o processo de decisão de compra, elencando fatores que têm maior ou menor peso: o quanto o preço é significativo? Quais os canais de venda mais utilizados pelo público consumidor? Quais são os players de mercado, e quais são suas forças e fraquezas?

Apelidamos o mapeamento de mercado de mapa da mina porque ele traz posições, oportunidades e ameaças do cenário.

Business Plan – o tesouro

Há várias metodologias possíveis e aspectos a se abordar num plano de negócios, desde uma modelagem superexpress, como o Business Model Canvas, até um BP formal, com projeções financeiras e plano de marketing. As variações de prazo e investimento são enormes, assim como o detalhamento das entregas. O importante, aqui, é entender as características do negócio para não gerar um plano desproporcional à capacidade de execução.

Para nós, tudo começa com as perguntas certas. Ao entender a real necessidade do mercado e planejar o product-market fit, a proposta de valor do negócio se torna o grande tesouro do empreendedor.

Como regra geral, acreditamos que negócios que demandam alta velocidade de resposta e estão num mercado de incerteza e volatilidade muito altas, não merecem um Business Plan formal, a não ser que seja uma exigência de investidores. Mas para nortear um negócio baseado em incertezas, um plano de três anos vai demorar três meses para ser finalizado, ou seja, um tempo suficiente para muitas premissas mudarem. E o estudo caduca antes de ser posto em prática…

É por isso que alguns tipos de negócios, em especial os altamente ligados a inovação, preferem começar com um Mínimo Produto Viável (MVP)_ para, então, com base nas lições aprendidas, revisitar o BP com uma abordagem mais fluida e baseada em resultados obtidos, em vez de assumir premissas ainda não validadas.

>> Leia mais: Entenda como a gestão de marca pode revolucionar o seu negócio

MVP – Mínimo Produto Viável – navegando com incertezas

Desde o clássico The Lean Startup, com a metodologia proposta por Al Ries, o caminho ‘tentativa-e-erro’ se tornou uma realidade em muitos tipos de negócios. O desenvolvimento de um mínimo produto viável, que muitas vezes sequer chega a ser um produto, pode ajudar o empreendedor a errar mais rápido e mais barato, validando sua ideia num mercado real e entendendo melhor como encontrar o fit. É como se construíssemos um pequeno barco só para dar uma olhada de perto na zona de rebentação. Esse barco não serve para cruzar os sete mares. Para isso, construiremos outro. Só que já teremos experiências acumuladas com o primeiro: os materiais usados, os processos, as pessoas e o cenário real encontrado enquanto começamos a navegar.

Nunca é cedo nem tarde demais para empreender

Sam Walton abriu o primeiro WalMart com 44 anos. Ray Croc assumiu uma marca desconhecida chamada McDonald’s com 52 anos. Cartola gravou seu primeiro disco aos 66 anos. Não me diga que a sua hora já passou. Apenas não abra mão de ser feliz e se sentir realizado com sua atividade remunerada. Mesmo que não dê todo aquele dinheiro.

DIGIA_ Você seguiria sua marca nas redes sociais?